A nova equação no mercado financeiro

Os novos "bancos" do mundo digital

5 min readFeb 20, 2019

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Uma grande transformação está acontecendo no mercado financeiro bem em frente dos nossos olhos no mundo inteiro. Estamos presenciando mudanças comportamentais na maneira como interagimos com o nosso dinheiro, repensando formas de o utilizar, solicitar e multiplicar. Essas mudanças estão sendo aceleradas e popularizadas graças aos avanços tecnológicos movidos pela necessidade de "fazer diferente", fortemente impulsionada pelas fintechs e gigantes da tecnologia.

Falando especificamente do Brasil, nos últimos cinco anos cresceu o número de empresas que se dedicam em transformar o mercado financeiro em diferentes frentes: pagamento, empréstimo, cartão, financiamento, gestão e investimentos. Segundo estudo divulgado pelo Radar FintechLab, estimou que no final do primeiro semestre de 2018, cerca de 453 fintechs estavam em operação. Isso representa um crescimento de 23% se comparado ao mesmo período do ano anterior.

Mas porque esse forte interesse nesse mercado? A resposta é simples: o brasileiro é um povo extremamente consumista, porém, com baixa educação financeira, o que gera diversos problemas na gestão financeira. Esse cenário é propício para desenvolver soluções em toda a cadeia de consumo, desde oferecer novas formas de pagamento até desburocratizar empréstimos e investimentos. Para ilustrar e quantificar esse cenário, podemos observar alguns dados:

  • Um dos povos mais consumistas do mundo. Segundo relatório do Banco Central, só os gastos no exterior ultrapassaram R$ 16 bilhões no ano passado.
  • 77% dos brasileiros já utilizam cartão de crédito, aponta estudo do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).
  • Apenas 9% aplicaram em produtos financeiros e menos da metade da população (42%) tinha algum dinheiro guardado ao final do ano passado, segundo a Ambima.
  • Mais de 60 milhões de brasileiros estão com dívidas atrasadas, segundo Serasa.

Esses números reforçam dois cenários opostos com enorme potencial de desenvolvimento, já que, ao mesmo tempo que os brasileiros se tornam mais consumistas, endividam-se na mesma proporção.

A descentralização dos produtos financeiros

O setor bancário brasileiro passou por profundas transformações ao longo dos últimos 15 anos. Com o fim da alta inflação, implantação do Plano Real e introdução de bancos estrangeiros no país, iniciou a consolidação do setor e uma maior eficiência operacional com a diminuição da dependência dos bancos públicos.

Com esse avanço, abriu-se para uma maior fatia da população o acesso a produtos financeiros e com isso, foi potencializado o desenvolvimento econômico dos brasileiros e consequentemente do setor. Mas mesmo com todos esse avanços, o acesso aos produtos ainda era restrito, pois apenas as pessoas que tinham conta em algum banco desfrutavam desses benefícios. Esse cenário não sofreu grandes alterações, já que 38% da população atualmente é desbancarizada, ou seja, 55 milhões de pessoas que ainda não poderiam utilizar produtos financeiros para diferentes necessidades.

Mas essa realidade está sendo transformada aos poucos. Ao observar esse cenário, muitas empresas criaram soluções criativas e que proporcionavam maior alcance e acessibilidade para os brasileiros. As fintechs estão eliminando diversas barreiras e abrindo diversas oportunidades para que os produtos financeiros não fiquem restritos apenas aos bancos e possam ampliar os horizontes para vários públicos, principalmente os não bancarizados.

Empresas como Nubank, Creditas, GuiaBolso, Rico, Picpay etc, estão criando novas experiências e se destacando em suas áreas de atuação, conquistando cada vez mais espaço no mercado nacional. Segundo o portal do StartSe, já foram investidos mais de US$ 1,2 bilhão nas dez principais fintechs do Brasil, o que só reforça o potencial de crescimento e amadurecimento dessas empresas perante a concorrência.

O novo "não correntista"

Por nadarem de braçada por anos em um oceano pouco explorado e para poucos tubarões, diversas práticas abusivas adotadas pelos bancos em seus produtos e no relacionamento com os clientes criaram uma atmosfera pesada e não confiável, tornando a relação um mal necessário para as pessoas devido a falta de opção.

A consultoria norte-americana Scratch realizou uma pesquisa com mais de dez mil jovens denominada The Millennial Disruption Index, com o objetivo de compreender diversos comportamentos e concluir que, na categoria banking, 71% dos entrevistados preferiam ir ao dentista do que ir ao banco. Outra informação interessante é que um a cada três estaria aberto a mudar de banco nos próximos 90 dias, sendo que 73% estariam dispostos a ouvir ofertas de empresas de tecnologia para substituir os serviços atuais, como Apple, Google e Amazon.

Não é a toa que elas estão cada vez mais inseridas nesse contexto, justamente por saberem desse enorme potencial de conversão desse público para os seus serviços. Algumas já entraram com pedidos para exercerem funções bancárias na Europa, como é o caso Google e Facebook. Dessa forma, não será estranho no futuro existir a possibilidade de substituirmos nossas contas bancários por nossas contas de redes sociais ou e-mail. Vale lembrar que em alguns países já é possível realizar pagamentos e transferências em ambientes digitais não bancários, como ApplePay Cash, Google Pay, Gmail, Messenger e até WhatsApp.

Um grande exemplo dessa nova realidade é o cenário que está cada vez mais consolidado na China com dois grandes players dominantes que ditam tendências comportamentos no quesito financeiro, que são o WeChat Pay e AliPay. Só o WeChat Pay possui mais de 1 bilhão de usuários na China e já é responsável por 33% de todo o mercado de pagamentos mobile no mundo.

Esse cenário demonstra a força da tecnologia na transformação do pensamento das pessoas quando o assunto é finanças, justamente por estarem dispostas a testarem novas soluções de empresas não bancárias que já fazem parte do dia-a-dia. Dessa maneira o processo se torna mais natural e transparente por já existir uma relação de confiança entre a pessoa e a empresa.

Seria esse o fim dos bancos?

A resposta é muito simples, sim. Os bancos como conhecemos estão com os dias contatos, mas isso não significa que eles irão sumir ou serem substituídos integralmente por outras empresas no curto prazo. A mudança por mais acelerada que possa parecer ainda não é massificada e exige tempo para que as pessoas possam se acostumar com a ideia que elas não irão precisar de bancos para ter acesso a produtos financeiros.

Uma das ações mais emblemáticas que uma fintech fez para mostrar que não precisamos mais de um banco foi a ação "o caminho está livre" do Nubank, em dezembro de 2018 na Pinatoqueca de São Paulo. O foco era promover a função de débito e saque na NuConta, demonstrando o potencial que existe no Nubank como substituto do modelo tradicional atual para aqueles que querem fugir dos bancos.

Esse movimento só aumenta a pressão sob os bancos tradicionais e os obriga a repensar em diferentes maneiras de melhorar seus produtos e serviços o mais rápido possível. Já é possível observar mudanças e iniciativas para se adequar a essa nova realidade:

  • Itaú: uniu-se a Apple para ser o primeiro a lançar o ApplePay no Brasil, com o objetivo de oferecer uma nova experiência de pagamento.
  • Bradesco: criou o Next, o seu banco digital.
  • Santander: comprou a Super Digital, disponibilizando uma experiência de cartão pré-pago para pessoas não bancarizadas.

E sabe quem sai ganhando com tudo isso? Você! Por anos não tivemos grandes transformações, com baixa concorrência e poucos avanços tecnológicos. Para ilustrar isso, assista ao vídeo e tire as suas conclusões.

O que podemos afirmar é que estamos presenciando uma grande transformação nos produtos e serviços financeiros, alterando os nossos hábitos e a forma como interagimos com o nosso dinheiro, não sendo um assunto exclusivo de bancos ou corretoras. Até ele, o dinheiro, está sendo questionado como deveria ser, ou seja, daqui pra frente vamos observar o surgimento de novas tecnologias e costumes no mundo financeiro.

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